sábado, 16 de outubro de 2010

Monteiro Lobato e a Eugenia

Como eu havia prometido, abaixo alguns comentários sobre a ligação de Monteiro Lobato e as teorias eugenistas no Brasil:

EUGENIA - termo criado no século XIX baseado na língua grega, que pode ser traduzido mais ou menos como "bom nascimento". Seu criador, Francis Galton, definiu-o como "O estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações, seja física ou mentalmente".
Nessa frase, podemos ver alguns pressupostos fundamentais às teorias eugênicas:
- Existem qualidades raciais que são melhores do que as outras. Como consequência, existem raças superiores e raças inferiores, sendo a branca a mais superior a todas as outras.
- Essas qualidades raciais não são apenas físicas (cor da pele, dos olhos, estatura etc), mas também mentais (nível de inteligência, bom ou mau caráter etc).
- É possível melhorar ou piorar as qualidades raciais de um povo, através de mudanças no ambiente social (idéia do darwinismo social). Um exemplo dessas mudanças seria controlar o casamento entre pessoas de "raças" diferentes, evitando assim que a raça branca fosse "contaminada", ou então promover a esterilização de casais considerados deficientes mentais ou físicos, impedindo, assim, que estes tivessem filhos deficientes.

Como é possível perceber, as teorias da eugenia eram racistas, mas, como esse era um pensamento amplamente aceito nos países ocidentais no século XIX e no começo do XX, elas fizeram muito sucesso. Em 1929 foi realizado no Brasil o 1º Congresso Brasileiro de Eugenismo, no qual foram discutidas várias medidas que poderiam ser tomadas pelo governo para melhorar a "raça brasileira", dirigindo-a para um embranquecimento.


Monteiro Lobato, famoso por suas histórias infantis, era um adepto das teorias eugênicas, e empregou essas ideías em várias de suas obras. Abaixo, alguns trechos que evidenciam a presença da eugenia nos seus escritos:


“Renato, tu és o pai da eugenia no Brasil e a ti devia eu dedicar meu Choque, grito de guerra pró-eugenia. Vejo que errei não te pondo lá no frontispício, mas perdoai a este estropeado amigo. (...) Precisamos lançar, vulgarizar estas idéias. A humanidade precisa de uma coisa só: póda. É como a vinha.” 
Trecho da carta escrita por Monteiro Lobato a Renato Kehl, médico e propagandista das ideías da eugenia.



"A nossa montanha é vitma de um parasita, um piolho da terra, peculiar ao solo brasileiro (...) Este funesto parasita é o caboclo, espécie de homem baldio, semi-nômade, inadaptável à civilização, mas que vive à beira dela na penumbra das zonas fronteiriças. (...)"
Trecho do artigo escrito por Lobato sobre o caipira para o Estado de São Paulo (12/11/1914).



"Perdemos o anjinho por culpa sua só. Burrona! Negra beiçuda! Deus que te marcou, alguma coisa em ti achou. Quando ele preteja uma criatura é por castigo. (...)"
Fala da personagem Emília no livro Memórias de Emília de 1972.


A obra de Monteiro Lobato que mais traz elementos da eugenia é o livro O Presidente Negro ou O Choque das Raças, escrito nos Estados Unidos em 1926. Seu enredo traz eventos que ocorreriam durante as eleições presidenciais norte-americanas no ano de 2228. Em uma sociedade dividida entre homens brancos, mulheres brancas e negros em geral, o maior número de eleitores era afro-americano. Desse modo, o candidato negro, Jim Roy, é eleito, fazendo com que os brancos tomem diversas medidas para "acabar com a ameaça negra".
Quem quiser ler o livro O Presidente Negro na íntegra, ele está disponível pelo link 

Para saber mais sobre o assunto, ver:




Um comentário:

  1. Pessoal, não sei se vocês viram/leram nos jornais, mas a polêmica sobre as obras infantis de Monteiro Lobato é bem atual. O Ministério da Educação estuda proibir o uso de um dos livros de Lobato nas escolas públicas, por ele conter trechos racistas.
    Para quem quiser ler uma das reportagens sobre isso:http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101031/not_imp632431,0.php
    Na minha opinião, não é preciso proibir a leitura dos livros do Lobato, mas sim trabalhar com as crianças sobre o racismo, ensinando na escola que o preconceito racial está presente em vários elementos da cultura e da sociedade, inclusive na literatura. Desse modo, sabendo que o racismo existe em várias formas, as crianças serão mais capazes de criticá-lo.

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