terça-feira, 23 de março de 2010

Resolução de Exercícios

Aí vão algumas questões de vestibular sobre a matéria que estudamos na aula passada (contexto histórico das grandes navegações e chegada dos europeus à América). Abaixo das questões coloco o meu comentário sobre as respostas das questões. Mas tentem resolvê-las antes de olhar o gabarito, certo? = ]


1) Mackenzie

As razões do pioneirismo português na expansão marítima dos séculos XV e XVI foram:

a) A invasão da península ibérica pelos árabes e a conquista de Calicute pelos turcos.

b) A assinatura do Tratado de Tordesilhas por Portugal e pelos demais países europeus.

c) Um Estado liberal centralizado, voltado para a acumulação de novos mercados consumidores.

d) As guerras religiosas, descentralização política do Estado e o fortalecimento dos laços servis.

e) Uma monarquia centralizada, interessada no comércio de especiarias.

Comentários:

Esta é uma questão de nível fácil, que quer saber se você consegue identificar expansão marítima com centralização política e comércio de especiarias. O item A está errado, pois a invasão da península ibérica pelos árabes aconteceu antes da formação do Estado Português, ou seja, antes da expansão marítima. O item B também está incorreto, pois o Tratado de Tordesilhas, assinado em 1459, foi feito porque a expansão marítima européia já havia chegado à América. O item C também está errado, pois o Estado Português da época não era um Estado liberal (o liberalismo, que veremos mais tarde, só surgirá depois do século XVII). O item D é incorreto porque foi justamente a centralização política que incentivou a expansão, e não a descentralização. Além, disso, a expansão marítima ocorreu na transição do feudalismo para o capitalismo, ou seja, quando os laços servis (feudalismo) estavam se tornando mais fracos, e não fortes. O item E, portanto, é o correto, pois indica a centralização política e o comércio como motivadores da expansão marítima européia. É importante lembrar, no entanto, que as especiarias não eram as únicas mercadorias comercializadas pelos portugueses.



2) Fuvest

Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, pode-se afirmar que objetivava:

a) Demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo como elemento propulsor o desenvolvimento da expansão comercial marítima.

b) Estimular a consolidação do reino português, por meio de exploração das especiarias africanas e da formação do exército nacional.

c) Impor reserva de mercado metropolitano, por meio da criação de um sistema de monopólios que atingia todas as riquezas coloniais.

d) Reconhecer transferência do eixo do comércio mundial do Mediterrâneo para o Atlântico, depois das expedições de Vasco da Gama às Índias.

e) Reconhecer a hegemonia anglo-francesa sobre a exploração colonial, após a destruição da invencível armada de Filipe II, da Espanha.


Comentários:

Essa também não é uma questão difícil, mas o modo como as alternativas são escritas às vezes engana. O item A é o correto, pois afirma que o Tratado serviu para “organizar” (pelo menos no papel) a divisão dos novos e velhos territórios explorados por Portugal e pelo Reino de Castela (Espanha) em suas expansões marítimas. O item B está errado, pois o Tratado não serviu apenas para Portugal, além de ter sido motivado muito mais pelas terras americanas do que africanas. O item C também é incorreto, porque o sistema de monopólio comercial não foi criado pelo Tratado, apesar de ter sido beneficiado pelas suas determinações. O item D é incorreto, pois as expedições de Vasco da Gama (de 1497, 1502 e 1524) são posteriores ao Tratado. Além disso, nessa época o eixo do comércio ainda não havia saído do Mediterrâneo, tinha apenas começado a mudar. O item E é errado, pois o Tratado de Tordesilhas referia-se a Portugal e a Castela, e não à França e à Inglaterra. Além disso, a destruição da armada de Filipe II aconteceu em 1588.


3) Unicamp


Os motivos que levaram Colombo a empreender a sua viagem evidenciam a complexidade da personagem. A principal força que o moveu nada tinha de moderna: tratava-se de um projeto religioso, dissimulado pelo tema do ouro. O grande motivo de Colombo era defender a religião cristã em todas as partes do mundo. Graças às suas viagens, ele esperava obter fundos para financiar uma nova cruzada. (Adaptado de Tzvetan Todorov. “Viajantes e Indígenas”, em Eugenio Garin. O Homem Renascentista, Lisboa: Ed. Presença, 1991.)


a) Segundo o texto, quais foram os objetivos da viagem de Colombo?

b) O que foram as cruzadas na Idade Média?

Comentários:

O item A dessa questão pede basicamente a sua interpretação do texto do enunciado. Segundo o texto, então, (como vimos na aula passada) Colombo tinha como objetivo defender a religião cristã e expandi-la, além de obter recursos para “devolver” Jerusalém aos cristãos (nova cruzada). Já o item B pede conhecimentos de História Geral, sobre o período da Idade Média. Resumidamente pode-se dizer que as cruzadas eram expedições militares promovidas pelos cristãos contra os considerados infiéis (“guerra santa”). Entre seus principais objetivos pode ser mencionados a retomada de Jerusalém e os interesses comerciais dos europeus com a expansão de suas rotas comerciais no oriente médio.


quinta-feira, 11 de março de 2010

Cartografia e Navegações


Cartografia -
a arte de traçar mapas geográficos ou topográficos - é um tema que cai no vestibular, tanto em geografia quanto em história. Fique atento, então, a esses exemplos que mostram como os mapas nos dizem muito acerca de como o mundo foi visto de várias formas ao longo da história.

Os mapas-mundi antigos – e também os atuais - não representam simplesmente a localização dos continentes, reinos e países: eles trazem também a cosmovisão* de seu autor e de sua época. Durante a Idade Média, um tipo de mapa freqüente foi o mapa “T – O”. Seu nome vem do fato de que nele a terra é representada como um círculo, cujo centro é dividido em 3 partes, em forma de um T, indicando a Ásia, a Europa e a África.


No mapa abaixo, também do tipo “T-O”, é interessante notar que no centro do mundo está localizada a cidade de Jerusalém, demonstrando a influência do cristianismo sobre o pensamento da sociedade medieval.

Os mapas medievais podem nos parecer estranhos pois eles não foram feitos com base em coordenadas matemáticas (como latitude e longitude). Além disso, os produtores desses mapas – na sua maioria clérigos – não os faziam para serem úteis à navegação, nem estavam preocupados com a sua precisão geográfica, mas sim tinham o objetivo de demonstrar o modo como eles entendiam o mundo. Muitos desses mapas, como o acima, mostravam não só o espaço geográfico como também várias ilustrações de histórias bíblicas ou sobre a vida dos santos.

Nos séculos XV e XVI, vários mapas começaram a ser produzidos levando-se em conta o conhecimento dos navegadores acerca dos portos e das costas, assim como as coordenadas matemáticas. Com a chegada dos europeus à América, o “novo” continente foi incorporado aos poucos ao modo como os europeus enxergavam o mundo.


Nesse mapa acima, podemos ver que o contorno do continente americano ainda é incerto. Esse mapa também traz uma série de imagens que servem para ilustrar as características de cada continente.

O mapa abaixo é a famosa “Projeção de Mercator”, que muito influenciou o modo como desenhamos os mapas-mundi atuais. Apresentada em 1569 por Gerardus Mercator, esse mapa foi nomeado pelo seu autor como “Nova e aumentada descrição da Terra, corrigida para o uso da navegação”.


É interessante notar, porém, que mesmo em 1582 – depois da chegada de Colombo à América, e depois do mapa de Mercator – havia representações da terra que ainda lembravam os modelos medievais. Como exemplo temos o mapa-mundi abaixo, no qual os três continentes tradicionais são representados como folhas, tendo Jerusalém em seu "miolo". A América parece não ter muito lugar nesse mapa, pois está em um "canto discreto" à esquerda. Isso não significa que o autor desse mapa acreditava que a terra era exatamente daquela forma, mas sim que havia diversas formas de representar o mundo – ou seja, diferentes cosmovisões.



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Referência: David Buisseret. La revolución cartográfica em Europa, 1400-1800. Barcelona: Ed. Paidós Ibérica, 2004.

Para quem lê em inglês há um blog com imagens de mapas bem interessantes: http://strangemaps.wordpress.com

*Glossário:

COSMOVISÃO – Modo de entender, analisar e representar o mundo de uma pessoa ou de uma sociedade.